26 maio, 2009

El gato sin botas


Por que perder tanto tempo com “porquês”, “comos” ou “quandos” se tudo é inesperado mesmo? Não há receitas para escolhas certas. Escreven-se livros, mil e um artigos sobre o tema “Ser Humano”, tratando-o como simples substantivo, quando na verdade trata-se de um verbo.
Ser humano é simplesmente deixar-se ser humano. E o que é ser humano? Bom, isso eu aprendo a cada dia, a cada amanhencer, não com os erros dos outros, mas com os meus. Isso é burrice? Para alguns sim. Minha mãe costuma dizer que sabedoria é aprender com os erros dos outros. Bom para ela, porque para mim definitivamente não funciona.
Sempre me dizem que sou cheia de invenções. E sou mesmo. E dessas invenções, que na verdade se convertem em experiências, vou vivendo demasiadamente humana. Pode ser uma simples paixão por pintura, em que descubro em mim um talento nato e levo meu padrasto a comprar tintas e telas para quase toda a escola de Belas Artes.
São inúmeras mesmo. E admito isso sem nenhuma vergonha. Posso dizer que vivi cada uma delas, que experimentei cada invenção sedentamente.
A última? Um gato.
Um lindo gatinho que me rendeu uma dermatite. Resultado: da-se o gatinho, compra-se remédios, desinfeta-se a casa.
E nem me pergunto se haverá outra invenção, pois isso é óbvio, mas quando?
Isso, na minha humilde e louca compreensão de quem não entende absolutamente nada, talvez seja viver.

11 maio, 2009

Escritas palabras


Há nela uma dor calada, um suspiro doído que leva ao mundo uma angústia antiga.

Pergunto-me como ela consegue seguir com tanto peso nos cestos, como pode caminhar com pés tão trôpegos, carregar tamanha ausência de ser.

Ela sorri forçada, abraça o outro com feicidade dissimulada, olha nos olhos deles à procura de respostas que nunca virão.

Carrega em si um fardo. Existir.

Suas narinas já não respiram há muito um ar livre de lembranças, ao contrário, a cada inspirar uma nova recordação perdida, a cada expirar, uma canção morrida.

E segue assim, nas ausências, nas reentrâncias de si mesma, ruminando o que já não lhe resta.

10 maio, 2009

La carne es débil


Parte 1


Parte 2

La serpiente sin paraíso


Dizem-me que sou egoísta. Falam-me de minhas incertezas, de minha vocação para vítima, de meu destempero habitual.

Meu defeitos são multiplicados a cada dia numa porcentagem escandalosa e de maneira não menos escabrosa, meus pensamentos bons são arrancados.

Realçam-me sempre o apego ao passado, como se nada tivesse movimento. E eu, neste mísero pavimento, pergunto-me quanto de mim há ou não há. Como cabe tanto em mim mesma?

Eu sou ou não? O que é verdade e o que é a verdade?

Criatura vil que se rasteja, cobra peçonhenta que almeja o próximo bote em cada esquina.

Em mim reside a contaminação do mundo (?)

05 maio, 2009

Días de lluvia


O que eu mais detesto em Salvador? Essa chuva desmedida que atormenta o outono/inverno dessa cidade.
Nessa época do ano, as autoridades fingem surpresa com o estado de calamidade, declaram estado de emergência, adotam pequenas medidas, na verdade pequenos reparos, que logo viram mais notícia nos noticiários que as próprias notícias.
E eu fico a me perguntar: não era mais fácil no verão? Mas não! Verão é tempo de festejar, de destinar atenção às carnavalescas festas. É tempo de pão e circo.
Uma eleição aqui, uma cassação ali, uma CPI acolá. Sempre tudo no mesmo ritmo. Mudam-se os protagonistas somente. Ou muitas vezes não.

O que me incomoda mesmo é ir dormir em minha cama quentinha, com aquele barulho gostoso de chuva lá fora e a cabeça deslizando para os deslizamentos. Meu travesseiro então tranforma-se em uma encosta a mais, onde se me vai o sono ribanceira abaixo.

04 maio, 2009

Algunos "paras"


Para um sorriso amargo, um olhar adocicado.
Para a falta de coragem, uma carreira em decolagem.
Para um céu cinza sem anil, um cobertor para o possível frio.
Àquele que olha de soslaio, um caminho de atalhos.
Se for para a estrada, cuide dos pés na longa caminhada.
E se for sem medo, não se procupe com os tropeços.

Um fio de cabelo caído, um calo, uma unha quebrada...
Tudo isso faz parte da jornada.