29 maio, 2010

Colheita


Quando ele diz que as coisas vão ficar bem, eu sempre acredito, pois há nele algo de tão transparente que é impossível haver outro caminho. Ele guarda consigo um amor verdadeiro e todos os dias sai a regar o meu jardim.
Com essa água derramada, brotam a esperança de dias melhores, a calma para os pensamentos intranquilos, assim como a fé renovada na vida. Não que tudo dependa dele, mas Dele, eu bem sei disso.
Não será fácil, talvez, mas a vida nunca me veio escorrendo. Sempre me veio em pedras. Então, para quê o medo? Ele só turva a vista, mina os bons sentimentos, seca a água regada.
Já chegamos tão longe, ultrapassamos tantos campos, corremos “juntos”, choramos “juntos”, sorrimos “juntos”. Mas esse “junto”, nunca foi mesmo junto. Agora sim, tiraremos as aspas.

13 maio, 2010

Engrenagem


Hoje eu fui testada, levada ao meu limite. Não foi exatamente uma resistência física, mas digamos que um casamento: fisiopsíquico. Poderia ter sido um dia normal, mas não! Mais uma vez tive que comparecer com os benditos papéis ao consulado espanhol. Das outras vezes (muitas outras vezes), mesmo saíndo com raiva, revoltada, sentida, logo aquele momento se esfumava e eu voltava a um estado mais tranquilo. Mas hoje... Hoje foi diferente. Eu cheguei às 09h para entregar os últimos documentos e pegar uma mísera assinatura e um carimbo. Mal sabia o que estava por vir. Expliquei a situação. A atendente disse que geralmente entregavam os documentos em dois dias úteis, mas se eu quisesse esperar, ela me daria assim que fosse possível.

Como eu realmente tinha pressa e precisava daqueles documentos hoje, resolvi esperar. Os dias têm sido cruéis em seu passar, e por isso, não posso perder mais nenhum deles sem um resultado condreto.

09h... 10h... 11h... 12h... 13h... 14h... Nada mais que 5 horas sentada nequele lugar, vendo cada pessoa entrar e sair, muitas solucionando seu problemas e muitas não. Lá dentro, os funcionários tomavam café, água, falavam ao telefone, riam, conversavam.

Houve um momento em que achei que fosse desmaiar de fome, de sede, de vontade de ir ao banheiro. Mas eu não podia descepcioná-lo. Não a ele! Eu precisava daqueles documentos.

Coloquei minha cabeça entre minhas mãos e o inevitável aconteceu: um pranto torrencial. Saí para que não escutassem o meu soluço, a minha dor, a minha revolta, pois eu não conseguia conter as lágrimas, foi mais forte do que eu. Eu não sabia o que era mais humilhante, se esconder as lágrimas ou ter que sorrir para ter os papéis. É assim que funciona quando precisamos, não é? Esse é o exercício do poder. Sua cadeia. E eu estava nela.

Passei a chorar não mais pelo medo de perder o prazo, mas por perceber como o ser humano é mesquinho, como precisamos de tão pouco para ajudar alguém. Daquela assinatura dependiam tantas coisas! Não só a minha vida, mas a dele também! Eles não sabiam, e talvez se soubessem, nem se importassem, porque estamos tão centrados em nós mesmos que esquecemos de olhar para o lado e estender a mão.

Será que é assim também quando alguém depende de mim? – pensei. Será que eu dou o meu melhor? Eu sei que muitas vezes não... e é por isso que fica essa corrente no mundo e tudo é tão mais difícil do que deveria ser.

É realmente triste saber que tantas vidas são acorrentadas pela burocracia diária, pela falta de comprometimento, pelo humor oscilante de um funcionário. E isso é algo tão comum nas repartições!

Eu tentei controlar as lágrimas, mas foi impossível. Eu estava vomitando toda a minha revolta com aquele lugar, com aquela situação deplorável, mas mesmo assim, foi um pranto contido, consciente, porque apesar de tudo, era eu quem precisava e precisava ser forte.

Quando já não havia mais ninguém no consulado e ficou meio ridícula aquela situação, alguém me olhou.

Eu saí dali com os pepéis em minhas mãos. Até agora não sei como consegui, mas eu consegui.