14 setembro, 2010

Na verdade 2 meses e exatos 5 dias


Faz muito, muito tempo que não escrevo aqui ou em qualquer outro lugar, mas eu sempre volto, como aquele que sempre volta à casa. Sempre.

Não sei bem descrever como está sendo esse período de minha vida, pois sinto-o um pouco suspenso, pendente de algo, uma sensação de porvenir, que por vezes me deixa nervosa. Estou numa cadeira de cinema como expectadora de minha própria vida.

Já começo a confundir o português com o espanhol, a pensar em espanhol, e isso porque ainda não comecei com o catalão. Às vezes acho que minha cabeça dará um nó e os neurônios entrarão em curto-linguístico. Mas eu tenho me esforçado.

Depois do longo mês de agosto, em que tudo permanecia fechado e as pessoas só pensavam em ir à praia (é, aqui essa época do ano me lembrou bastante Salvador, e por alguns momentos me esquecia de que estava a quilômetros de um bom acarajé), as engrenagens de setebro já movimentam os dias, e assim também os meus, por fim!

Há muitas semelhanças com Buenos Aires, mas BCN é muito maior do que qualquer outra cidade em que estive (tudo bem, eu não conheci São Paulo), e às vezes, quando estou caminhando ou tomando o metrô, tenho a impressão de que serei engolida a qualquer momento.

O metrô. Esse espaço curioso em que milhões de pessoas dirigem-se à zilhões de lugares ao mesmo tempo. Para mim é uma janela indiscreta dessa cidade que tenho aprendido a viver. Gosto das oportunidades que tenho de ver como se comportam as pessoas, e as olho de maneira curiosa, buscando pistas nas roupas, no cabelo, no que estão lendo. Acho que descubro mais BCN no metrô do que em qualquer outro lugar.

Ontem quando estava indo ao trabalho, como sempre faço, levei um livro para ler durante a curta viagem (eu sempre carrego um comigo, nunca se sabe o quanto se vai esperar nessa vida, assim que é bom estar previnido), fui arrancada de minha forte concentração pela conversa de dois estrangreiros (não sei exatamente de onde eram, mas pareciam o que os espanhóis chamam de moros, pessoas oriundas do Marrocos). Eu não entendia absolutamente nada do que diziam, mas eles falavam tão alto que eu não tive muita escolha. Fiquei imaginando o que estava falando um para o outro. E me lembrei do dia em que me sentei em frente a duas chinesas, e foi a mesma situação.

Eu realmente fico espantada com a quantidade de imigrantes que Barcelona comporta. Não sei se isso é bom ou ruim, mas sei que os espanhóis não gostam. Não gostam mesmo. Ontem uma brasileira que conheci na incrição do curso de catalão (esse idioma é outro parênteses) me disse uma coisa que eu sempre me lembrarei: “você pode viver aqui o tempo que for, décadas, talvez, mas será sempre uma imigrande e será tratada como tal”. Então, eu pensei na maneira em como o Brasil recebe os estrangeiros e meus olhos encheram-se de lágrimas. Lágrimas de saudade.

E a cada dia que passa, vou descobrindo mais dessa babilônia que é BCN e domando a saudade, que insiste em querer sair pela boca a cada segundo.