Outro
dia perguntei aos meus alunos quando havia sido a última vez que eles tinham recebido um cartão postal, uma carta ou até mesmo o último cartão de Natal. Para minha
surpresa, a maioria disse que nunca havia recebido um cartão postal na vida (e
olhe que é um grupo de adultos, se fossem adolescentes, eu até entenderia), que
cartas nunca haviam mandado nem recebido, e que cartões de Natal já estavam fora
de moda. Então eu me dei conta (constatação óbvia) de que realmente as pessoas já não usam o
serviço dos correios para essas coisas, me fazendo pensar que talvez eu fosse uma das últimas de minha espécie que o faça. Ainda existem, claro, os que insistem em manter a tradição. No Natal do ano passado, recebi um cartão de Meradeth, uma amiga que mora nos EUA. Lindo! Os americanos mantêm esse hábito tão admirável de mandar cartões de Natal, assim como os ingleses, às vezes super personalizados, como esse que recebi de Meradeth, em que trazia na capa uma foto sua e se seu marido. Uma coisa!
Quando
eu era criança e meu mundo estava desabando com a separação de meus pais (ele
continuou desabando por muitos e muitos anos), eu costumava me corresponder com
uma amiga chamada Sarah. Ela morava em Itaberaba e eu em Salvador e só nos
víamos de ano em ano, quando passávamos as férias juntas em Palmeiras. Certa vez,
ela me enviou em uma de suas cartas uma foto, que guardei como um tesouro.
Era como se aquela foto em branco e preto, com o seu rosto sorrindo para mim, me fizesse esquecer de onde eu estava e me levasse às
doces lembranças de nossas férias naquela cidade tranquila, onde não existiam problemas, só brincadeiras, só sorrisos. Até hoje tenho suas cartas e me lembro especialmente do envelope azul de estrelinhas onde está guardada essa foto.
Eu me
correspondi com amigas bem especiais como Maíra, uma antiga vizinha que se mudou
para o Rio de Janeiro, e que me contava como estava sendo sua nova vida ali. Um
dia ela me escreveu, em uma dessas longas cartas que costumava enviar-me, contando-me como tinha sido
o show de Claudinho e Bochecha que tinha ido: Inesquecível. Maíra escrevia páginas e páginas. Enquanto lia suas palavras, ficava imaginando como seria sua nova vida, e me lembrava daquela garota loirinha, de olhos azuis e nariz arrebitado. Foi através das cartas que chegamos a nos conhecer melhor, muito mais do que durante os anos em que convivemos no playgroud de nosso prédio. Lembro-me das cartas que recebia de Priscilla, desde Recife, e das de Mércia, que vinham de Aracaju. Os amigos, as pessoas queridas não ficam para sempre em nossas vidas, mas as cartas sim, como a
presença de algo que existiu, uma prova de que as lembranças que carregamos
são reais.
A
verdade é que eu amo escrever e receber cartas, e acho uma pena que as pessoas
tenham perdido o hábito, ou melhor dizendo, a paciência de
escrever. A vida hoje parece ser mais veloz, (parece não, é!), principalmente porque crescemos, já não somos os filhos de uma família, e sim os pais dela, mas também passamos demasiado tempo no computador ou olhando
nossos celulares, imersos no mundo da informação que às vezes tão pouco comunica. Escrever cartas, então, tornou-se ultrapassado.
Dia desses mandei vários cartões postais a alguns amigos. Custou-me uma pequena fortuna, preciso reconhecer.
Mandar e-mails é grátis, mas não tem o mesmo sentimento, a mesma emoção de
abrir um envelope e ler o que está escrito. Mandei também um cartão de aniversário para minha irmã, que me disse que chorou como uma boba quando o recebeu. Acho que fiquei mais feliz que ela.
Cartas, postais, cartões... um presente que tornou-se raro e cada vez mais especial, em minha opinião.