...é palavra que quase não sai de meu coração, de meus dedos que teclam, de meus olhos quase sempre lacrimosos. Tenho uma tendencia séria ao saudosismo exacerbado. Por onde passo as lembranças saltam como pipocas na quentura de um coração meio exagerado.
Um dia houve uma biblioteca. Uma bem simples, mas não por isso menos preciosa em saberes e deleites literários. Costumava passar as tardes perdida dentro das estantes de ferro, decobrindo e me reinventando. Essa foi a época última da escola. Às vezes nem almoçava.
Gosto dessas lembranças, do cheiro dos livros, das dicas que quase sempre não se restringia à responsável pelo setor. Estava sempre eu lá metida e enxerida palpitando.
Foi assim que tomei gosto pela coisa. Certa feita um livro foi arremessado pela janela. Eu, tomada pelo desespero, primeiro por não ter o dinheiro para pagar o livro, segundo por não entender tamanha ultraje, pedi que o zelador fizesse o regate. Um meu, outro de minha irmã. O meu não me lembro bem, mas o dela era um volume da série “Corredor da Morte” de Stephen king, comprado posteriormente em uma Bienal. Guardo-o como relíquia.
Depois de várias tentativas, finalmente os tesouros devolvidos. Por muito tempo uma barra de sabão azul ficou no telhado do resgate, sendo vagarosamente dissolvida pelas chuvas. Lá estava ela, sendo levada a cada dia, mas resistindo bravamente, como uma espada que conquista batalhas.
Felizmente as lembranças não se dissolveram junto.